Chegávamos cedo e íamos direto para a cozinha. O tabuleiro gigante nos esperava e íamos colocando todos os ingredientes, displicentemente, com a ânsia de logo terminar. Depois de um par de minutos logo se ouvia o alvoroço em torno da mesa. As cartas embaralhadas, depois distribuídas e cada qual concentrado em seu monte. Nada podia dar errado. O que estava em jogo, estava se formando e ganhando corpo lá, bem lá, naquele forno. E era delicioso de se sentir o aroma doce do bolo crescente. Mas aos poucos saía um, depois ia embora o outro e, por fim, o grande vencedor! O primeiro escolhia a primeira fatia e assim por diante. Bingo!
Depois ouvia-se o estalinho do óleo fervente e o ruído da fritura. Era também o dia do hambúrguer, pois sim! Éramos todos adolescentes em plena empolgação e desdém e, era sexta-feira, porque não? Tudo valia, a diversão inclusive! O bolo, depois os hambúrgueres, nesta mesma ordem, aí vinham as risadas e depois os filmes de terror. Sim, claro, também haviam eles! Quarto escuro como deve ser, todos no chão cobertos, travesseiros, meias folgadas e alguns cachorros estirados. Não havia como ser mais assustador. Riamos, mas também nos apavorávamos, cobríamos os olhos e gritávamos: “Jason, porque sempre aparece de surpresa?” Nunca soubemos a resposta...
Depois era hora do “boa noite”, “durmam bem”, como isso seria possível? Íamos para o quarto, mas antes passávamos rapidinho pela sala e era lá que a noite começava. Um pouquinho mais de baralho, talvez um pedaço final de bolo, muita conversa, aquelas mais apimentadas sobre isso ou aquilo lá. Clima perfeito para um último drink, mas éramos jovens demais. Ao invés disso, doses avantajadas de Coca-Cola de garrafa, as melhores! Tudo disfarçava o ar macabro da sexta-feira treze e as impressões que ainda restavam daquela noite escura, fria e de terror. Como era divertido! Uma bela hora, quase rente ao cantar do galo, todos tombávamos felizes e extenuados, certos de que haveria a próxima, a próxima e a próxima sexta-feira com os primos!
E assim termina este pequeno texto contando um singelo momento chamado... Hygge!
Luciana Corrêa – Mixing Things with Love
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