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  • Luciana Corrêa

Quando um pássaro irrompeu o meu caminhar...❤



Era meio-dia de um dia qualquer da semana. Era outono e o sol, vez ou outra, dava lugar a chuva passageira e diminuta. Daqueles dias difíceis de se estender roupas no varal. Tudo estava a pleno vapor, em nada se notava calmaria ou contemplação. Desde o corre-corre para colocar e tirar as roupas que insistiam em se molhar com a chuva até os pássaros que não compreendiam qual era daquele dia. Se chovia ou se faria sol, ninguém sabia no que ia dar aquilo! Dentro de casa havia uma agitação própria dos afazeres, do trabalho, dos estudos, mas também um intenso movimento interno mantido por pensamentos, preocupações e ocupações. Por mais que o espaço estivesse reduzido pela própria casa, por mais que o meu caminhar estivesse delimitado por aquele isolamento social recomendado, ainda que não houvessem demasiadas atribuições me rondando, ainda assim, estava habituada a não parar, em nada frear. Pois então, as rodinhas nos pés não paravam de circular, assim como os pensamentos corriam para todos os cantos buscando suas resoluções. Como se a vida devesse estar em plena ordem, com eficiência e produtividade máxima! Foi quando vi um passarinho voando por sobre uma árvore...



Estava perto da janela do meu quarto, buscando a garrafa de água para encher, arrumando o controle da TV que ficara fora do lugar, fechando o livro que havia lido na noite anterior. Com movimentos rotineiros e negligenciados, não fazia mais do que o de sempre, coisas que nem notava mais. De repente, numa olhadela de soslaio pela janela, em meio aos afazeres mais banais, algo se movimentou com rapidez me fazendo parar. Era um passarinho que voou e pousou num dos galhos da árvore mais próxima. Naquela interessante e singela cena, haviam flores que coloriam o verde da grama, da árvore, da vegetação ao seu redor. Era só isso. Um pássaro que rasgava o ar e fazia sua paragem em um galho qualquer. Foi o que bastou para eu notar, olhar e refletir. Porque aquilo me fez parar? Não havia motivo considerável para isso, não me encantava de maneira diferenciada “pássaros no céu”, nem piar ele havia piado tanto assim... Encompridei o meu olhar até que ele se foi. Voou por entre os galhos ganhando o céu com uma liberdade de dar inveja, com uma inocência admirável e com asas ágeis e despretensiosas que só ele. A cena havia acabado interrompendo o meu caminhar, freando meus pensamentos e distraindo o meu olhar. Logo pensei em Arte...



Ela, a Arte e todas as suas diversas formas, seja a música, a pintura, a escultura, seja a dança, o teatro ou a literatura, em todos os seus aspectos, a arte nos faz parar para ser notada. Esse é o poder dela, de embelezar o mundo dando graça, vida e história. A arte nos invade e nos preenche, modificando o que há em nós pela exposição escancarada de sua formosura e ousadia. A Arte pode ser persecutória com sua insistente tentativa de nos cativar, de nos modificar, de acalmar em nós aquilo que está inconstante ou sombrio. Quem não ouviu dizer que a Arte nos salvou - um pouco - nesta pandemia? Quem não se sentiu abraçado ao passar a tarde vendo uma série na TV ao lado da família? Quem não viajou lendo um livro incrível ao lado de uma xícara de chá? Quem não dançou em casa nas aulas on-line, quem não pintou ou escreveu, quem não assistiu peças de teatro famosas disponíveis gratuitamente pela internet? Quem não usufruiu dela nestes tempos tão diferentes que estamos todos vivendo... E aquele passarinho que me interrompeu de maneira tão graciosa e também avassaladora, me levou a escrever este texto sobre cena simplória e banal. Ele me transportou para outras paragens, me fez voar com uma liberdade invejável, com um olhar inocente e admirável, aquele passarinho me deu asas despretensiosas para voar!



E assim termina este pequeno texto contando um singelo momento chamado... Hygge!


Luciana Corrêa – Mixing Things with Love


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