Imagine a cena. Um bolo intensamente iluminado por velas que contam a sua idade. Mas são tantas que até me perco nas contas! Cada vela projeta um ano que vivi, tantas coisas que senti e muitas histórias que contei. Elas brilham, brilham e depois de certo canto, se apagam e deixam apenas um rastro de nuvem mal cheirosa. Se bem que me encanta o cheiro doce das velas recém apagadas... Sinal do doce sabor que virá depois! Indica a melhor parte do bolo, a hora de prova-lo. Mas aí vem o tilintar das louças, a pergunta “quem corta?”, a fila alvoroçada dos convivas, a ansiedade nos olhares, para aí sim, ter aquilo que, àquela luz, depois aquele canto, ai o cheiro, me disseram era hora.
Bolo de chocolate com recheio de chocolate, com calda de chocolate, tudo como deve ser! Irresistível ao olhar, mas inesquecível ao sentir... Bolo bom é aquele que faz os olhos crescerem, as papilas entrarem em pane e você se lembrar daquele momento depois, depois e depois. Assim foi aquele certo bolo que comi naquela festa. Quando foi? Nos anos de? Não me lembro mais, afinal meu bolo tem tantas velas que até a memória me escapa vez em quando. Mas era bom, eu lembro. Provei ao lado dele, nossos olhares se cruzavam e a toda hora escutava-se o hum, hum, hum com gracejos e risadinhas numa mistura meiga de aprovação e encantamento. Estava tudo bom naquela hora. O bolo, a companhia, a troca, o conforto de se estar ao lado de quem se quer.
Parecendo a estrela maior daquela festa, depois daquele bolo, ela minguou e se esvaziou. Mas não seria a aniversariante a tal da estrela? Ou será que todos esperam o momento mor, daquela doce aparição, iluminada por velas “incandescente-mente” belas, que aí todos tomam seus caminhos, como a se dizer, “ok então” e se vão? Espalham-se procurando os seus, depois procuram suas bolsas, seus casacos, seus cachecóis. Um zoom, zoom, zoom de “até breve” “foi bom te ver” “não desaparece” e pronto. A festa acaba assim! E aos olhos atentos daquele que vê o pormenor do instante que durou, suspiro e sorrio feliz por mais um ano que se passou.
E assim termina este pequeno texto contando um singelo momento chamado... Hygge!
Luciana Corrêa – Mixing Things with Love
Conteúdo incrível!