Há quem diga que preparar uma festa é a melhor parte dela! Sonhar e planejar, depois esperar e caprichar em cada mínimo detalhe. Há, porém, aqueles que aproveitam cada minuto dela e custam a crer que ela acabará. Ainda há aqueles que gostam do fim da festa. Para estes, será uma mistura de “ufa, acabou!”, com “aleluia, deu tudo certo!”, com “socorro quero minha cama” ou o que? Nada disso ou um pouco de cada uma delas? Podem até parecer daquelas pessoas que, ao se depararem com a expectativa de receber em casa, começam com uma série interminável de questionamentos: "e se ficar doente, e se chover, e se não vierem, e se faltar comida, se, se, se"... Mas não! Em geral o preparar, o receber e o finalizar, causam prazer e alegria, mas há um quê a mais, uma aura diferente que paira no ar quando a festa acaba. Não acaba, acaba... Quero dizer quando o último convidado se vai, mas ficam os mais próximos. Aqueles que não moram na sua casa, mas que não são só convidados de tão de casa que já são. Quando a geladeira guarda o último prato de comida, mas claro que aquela bandeja de brigadeiro ainda não foi para o armário. Quando as luzes se apagam, mas ficam as velas acessas, os abajures a meia luz e a lua cheia entrando pela fresta da janela. Quando a música para, mas o som do silencio na casa vazia entra como melodia irresistível e aconchegante. Quando a última taça está praticamente pela metade ou pelo fim, mas na garrafa ainda resta um finalzinho. Quando o café já foi servido, mas na térmica ainda se conserva aquecido. Esse momento, o “fim de festa” a que nos referimos, este que está contido entre o fim real da festa e uma hora antes deste término, este, é chamado de “Momento Diretoria”.
Existe um outro momento da festa onde todos se olham, aí olham para seus relógios, procuram de soslaio suas bolsas, começam a chamar por um e por outro, “onde está fulano?”, apontam cansaços alheios sem qualquer permissão ou veracidade, e como se fosse fim de jogo em estádio lotado, todos acabam se dirigindo lentamente para a porta e se vão. Mas não a diretoria! Esta, nem levantar do sofá levanta, nem deixar o copo deixa, abandona tudo para trás e se apega a festa como a vislumbrar o melhor dela. Ah a diretoria, ninguém precisa dizer quem é, quem faz parte, ninguém. Se a festa é do outro, você sabe muito bem se você é ou não é da diretoria. Se a festa é sua, você sabe muito bem quem ficará para o final dela. Ah, todo mundo sabe... Nesse momento nada mais importa, a casa bagunçada, as louças empilhadas, os cabelos desalinhados; as preocupações (se houveram) não existem mais, a sensação de estar alerta a tudo e a todos passa, vão-se embora junto com o último convidado a sair. Momento de pleno relaxamento e contentamento, num clima ainda festivo onde um ar de entusiasmo ainda paira sobre todos. Sentam-se a mesa, a princípio para uma despedida mais apropriada, mas aí alguém lembra “onde está aquela bandeja de brigadeiro? Ainda tem?”. Pronto! Daí para abrir outra garrafa, falar das últimas fofocas, beliscar os derradeiros acepipes e confraternizar com brindes sem fim, puxa é aí que outra festa começa!
Mas, sem mais nem menos, rompe-se o silêncio e você escuta um coro baixo e uníssono. “Abre, abre, abre, abre, abre, abre!” O que?? Nessa hora sempre penso, puxa vida terei que subir as escadas, buscar uma pilha de caixas de presente, descer quase cambaleando, trôpega, abrir tudo e depois subir novamente com tudo? Sim, isso passa preguiçosamente pelos pensamentos como a espreguiçar-se sobre minhas ideias, mas logo vai embora com a euforia que desperta repentinamente. Um a um os presentes são abertos e exibidos com sorrisos e gritinhos de “ohhhh, nossa, que lindo, uau...” misturados aos sons de papel rasgando, laços se abrindo e plásticos amassando. A euforia e o cansaço nessa hora são tremendos, assim como a alegria e a satisfação também, mas o que é mais notável, sem dúvida, é a possibilidade de união e confraternização entre pessoas queridas proporcionada por uma festa. É também o carinho que transborda da diretoria nos momentos derradeiros dela. Digno de parar, notar, valorizar e sim repetir muitas e muitas vezes! Claro que, devo dizer, com moderação em épocas de poucas, pouquíssimas aglomerações.
E assim termina este pequeno texto contando um singelo momento chamado... Hygge!
Luciana Corrêa – Mixing Things with Love
Comments