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  • Luciana Corrêa

Com as cores de um arco-íris❤



Estávamos quase finalizando a viagem, chegaríamos após alguns minutos e já podia sentir o cheiro encorpado da maresia no ar e a brisa quente e úmida da praia. Havia chovido ligeiramente durante o percurso, apenas gotejado, suficiente para molhar, mas não refrescar. A quentura do ambiente deixava nos rostos, ora atentos ora sonolentos, a marca da umidade e as bochechas levemente ruborizadas. As nuvens carregadas bailavam pelo céu, em discrepante simetria, num misto de cinza, azul claro e branco. Se olhasse para um ponto do céu parecia que iria chover logo mais, mas se desviasse o olhar para outros lugares não, havia uma réstia azulada e esperançosa. O corpo dava sinais de cansaço pela posição imóvel das pernas, dos braços inexpressivos e grudados na direção e pela atenção redobrada a estrada. Estava dirigindo havia 3 horas, com apenas uma rápida parada para um café. Quando finalmente avistamos a balsa que nos levaria a encantadora ilha fomos logo entrando sem esperar nem um minuto sequer. Muita sorte a nossa, pensei, pegar logo de cara a primeira delas e prestes a partir! A gigante do mar estava todinha com carros, pedestres, motos, caminhões, crianças e jovens, mulheres com bebês de colo, amigos de faculdades. A água marulhava placidamente contra ela, nos avisando suavemente que a travessia seria tranquila e plana. Após sonoro aviso soubemos da nossa partida naquele comboio humano rumo ao paraíso.



Logo de cara, mal havíamos sarpado, alguém apontou um arco íris no céu. Olhei e vi dois, achei estranho. Nunca havia visto dois de uma vez. Decidi dar uma escapadinha do carro, sabendo que isso não era mais permitido. Alguma coisa não me impediu. Foi só tirar o corpo para fora do carro e muito rápido ele se apresentou todinho para mim. Era apenas um arco íris. Mas que visão! Caminhei pela balsa em linha reta a caminho do mar. Não reparei no que acontecia ao meu redor. Apenas de rabo de olho notava, de relance, o que se passava a minha volta. Pessoas se movendo, atônitas, saindo de seus carros, subindo nos capôs com seus celulares, não se importando com o que era permitido ou não. Ninguém falou comigo, ninguém me impediu, nem um sonoro aviso ouvi. “Voltem para seus carros, não é permitido andar pela balsa”. Nada. Na certa também vislumbravam o inesperado colorido do céu. Num misto de incredulidade e medo, notei alguma coisa surgindo na minha garganta, meu coração discretamente descompassado e percebi então que meus olhos umedeciam pela emoção. O que era aquilo? Havia muito barulho da balsa, do vento batendo em tudo, rostos, corpos se movendo, carros ligados, pessoas soltando gritinhos surpreendidos por tamanha magnitude da Natureza. Olhei para duas pessoas que, como eu, andavam como que hipnotizadas para a borda da balsa, ensaiei algumas palavras tipo “você está vendo o que eu estou vendo?", mas não, emudeci diante daquilo.



Nunca vi um arco-íris como aquele. Ele começava na praia, percorria o céu até chegar nas nuvens e quase tocá-las, terminando em outra praia, distante. Inteiro, profundo e sereno. Espetacular! Todas as cores pude notar, ele se mostrava completo, como em um desenho animado. Grande e gordo, uma beleza, deu a sensação de que podia ser tocado, acariciado de tão visível que era. Nossa balsa parecia não se importar, não se ateve a ele, continuou navegando com mansidão sobre o canal verde escuro de prateadas marolas. A visão era como um imenso portal da ilha a nos dar as boas-vindas de maneira imprevisível e com majestosa pompa. A natureza fazia graça nos mostrando sua força viril, sua alegria juvenil, seu frescor, nos alertando da sua importante presença em nossas vidas. Como assim, um dia ver tal arco-íris no céu? Éramos muito diminutos perante aquilo, a balsa, as pessoas, tudo era uma titica qualquer em meio a um mar de cores e formosura. Nunca mais me esqueci ou me esquecerei daquilo, da sensação de parecer pequena, indefesa perante o espetáculo natural, nunca mais! Como é bom notar tudo isso, como é bom.



E assim termina este pequeno texto contando um singelo momento chamado... Hygge!

Luciana Corrêa – Mixing Things with Love

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