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  • Luciana Corrêa

Apenas um fim de tarde...❤



Era por volta do cair da tarde, não me recordo bem o horário, quando o Sol de Campos do Jordão se despediu daquele dia anunciando o rubor crepuscular e a noite estrelada que viriam. A temperatura iniciava seu despencar e o cheirinho da lenha queimando na lareira, seu estalar macio e contínuo, davam o tom e a cor daquela hora. Até o vento parou de repente de respirar... Pássaros afoitos sobrevoavam rente às árvores provavelmente em busca de um abrigo, a grama ensombreada e seca estava imóvel e convidativa, de um verde raro de se ver. A Lua, minguante ou crescente, não sei bem qual era, já se mostrava altiva apesar do Sol ainda presente. Via-se ao longe o desenho montanhoso e acidentado, entrecortado por florestas e outras montanhas mais longínquas ainda, como que pintadas por talentoso aquarelista. A Pedra do Baú enevoada e diminuta se apresentava, distante de nossas vistas, por entre as árvores do jardim. Havia silêncio, ainda que em pleno movimento da natureza ao se aprontar num ensurdecedor desenrolar de atividades. No arrebol daquela tarde invernal muitos tons se viam no céu azul turquesa dando lugar, caprichosamente, ao vermelho em degrade num espetáculo rotineiro e admirável. Estrelas, aos poucos, tremeluziam espetaculares!



Decidimos preparar um chá de gengibre com cravo e canela, daqueles bem quentes, e saboreá-lo frente ao pôr-do-sol! Em fogo baixo caramelizamos o açúcar, depois fritamos pedaços de gengibre, aí jogamos o cravo, depois a canela, por fim, água fervendo! Escutamos o barulho da fervura, sentimos o aroma das especiarias e observamos a cor se modificando... Quando tudo nos pareceu marrom caramelo, quando o aroma já havia ultrapassara o fogão à lenha, quando as canecas, separadas e prontas, nos imploravam para serem preenchidas, nos dirigimos ao platô para a grande hora! Todos bem servidos de chá, agasalhados, encapotados, protegidos do frio. Pouco a pouco fomos nos aproximando, sentando, uns tirando fotos, outros jogando bola, outros ainda parados e atônitos. Canecas à mão, elas nos abasteciam com o agradável sabor, nos confortavam com aromas familiares, mas também nos aqueciam com sua quentura. Rostos rosados pelo frio ou pelo calor logo surgiram emoldurados por sorrisos de contentamento. Alguém anunciou a golden hour e a possibilidade das fotos, ou das selfies, serem batidas com mais qualidade e iluminação. Rostos dourados e felizes se afiguravam em diversas fotos familiares, aos pares, em selfies, aos montes...



Ele, o Sol, uma bola redonda de fogo, cada vez mais baixo e vermelho, também foi alvo de tantas e tantas fotografias, como se nunca o houvéssemos visto, como se ele sempre estivesse por lá, mas nós jamais tivéssemos vislumbrado algo tão esplendido. Através das lentes potentes de nossos celulares, ele foi divulgado para além mar, ele foi aterrissar em outras paragens, onde Judas perdeu as botas ou então depois do fim do mundo... Sabe lá para onde ele foi. Postamos para contar a grande novidade: “olha lá o que estamos vendo, já viram beleza maior? Já souberam dessa maravilha?” Foi então que o vimos descer avermelhado, lento, apaziguado... Ele nos contava da sua rotineira jornada, nos anunciava sua beleza inaudita, sua força em nos cativar, seu destempero irresistível. O Sol brilhava, mas ao mesmo tempo morria por entre as nuvens. Ele se despedia, mas não soava um “adeus”, nos dizendo baixinho apenas um “até breve”. Na medida do seu despencar mais e mais o céu se pintava de vermelho, de laranja e de rosa, deixando o cenário todo atraente e hipnotizante. As Araucárias grandiosas escureceram impactadas por tanta luz e contraste. Eram imponentes ainda, claro, mas apenas borrões verde-escuros em meio a um mar de vermelhidão. Não havia para ninguém, apenas ele, o Sol... em apenas um fim de tarde!



E assim termina este pequeno texto contando um singelo momento chamado... Hygge!

Luciana Corrêa – Mixing Things with Love

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