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  • Luciana Corrêa

A razão de misturar!❤



Alguém discorda que o ato de cozinhar é um ato de amar? Quem já não ouviu a expressão “...é porque foi feito com amor”? Este lugar comum encontra caminhos para lá de longínquos quando muitas gerações dão o testemunho dessa prática. Quem não tem uma lembrança da infância cujo bolo de fubá só a avó fazia e ninguém mais? O que ela fazia de tão diferente e especial? Quem não tem aquele prato de família, que veio lá de uma tia distante e que percorreu gerações agradando aos paladares diversos? Aqueles que se aventuram na cozinha para fazer qualquer coisa que seja, fazem para o outro, fazem pelo outro e percebem que o ato não se encerra em si. Existe sim o preparar, o aguardar e o arrumar. Há também o dosar, o cortar e o peneirar... Existem também as pessoas que experimentarão, que darão seus palpites e farão barulhinhos inesperados, baterão palminhas esfuziantes ou falarão apenas um “estava bom.” Mas não há como negar que existe, sim, algo que transborda de nós pelo ato de cozinhar. E não é apenas a calda quente do açúcar que é derramada lentamente sobre as claras em neve e nem somente o chocolate derretido que é alternado com as farinhas para se misturarem aos ovos na batedeira. Algo de nós também é aplicado à receita dando o toque pessoal e intransferível, que identifica aquele bolo como sendo “o bolo da minha avó e de mais ninguém!”


Portanto, hoje, não quero crer na confeitaria como o ato puramente do fazer, do embelezar, do mostrar, e do vender. Não. Se, de fato, existe um algo a mais nesse saber manual, algo que excede aos nossos olhos, quero também pensar sobre ele, escrever sobre ele, dar palavras à confeitaria aconchegando sobretudo os sentimentos e as emoções envolvidas neste processo todo. Que eu consiga nomear e que cada letra esteja correta, cada vírgula colocada no seu devido lugar e que cada ponto final encerre com primor meus doces pensamentos. Que cada exclamação esteja harmônica e em consonância com todo resto, assim como uma bela receita se diferencia em sua perfeição e encantamento. Que eu vá buscar uma receita antiga e que esta contenha uma história interessante e necessária, ou que eu simplesmente faça divagações sobre o apreciar de um bolo numa festa de aniversário. Seja como for, que tudo isso mostre em sua totalidade de palavras, sem errar um grama, que todos os pesos e as medidas estão equilibrados, mas que a emoção envolvida esteja lá e também seja pauta para os meus questionamentos.



E ao falar sobre receitas e modos de fazer, sobre ingredientes e alternâncias, que eu também coloque a beleza de todo esse fazer contido na mais simples das atividades. Ao demonstrar uma receita desejo de coração reverenciar a Matemática por estar presente nela de uma maneira determinante e imprescindível. Que ao misturar primeiro isso e depois aquilo, nas temperaturas exatas e necessárias, que eu honre a Química por nos conduzir a lugares mais assertivos. E que pela leitura de todos esses ingredientes e seus modos diferenciados de se fazer, que eu olhe para a língua portuguesa observando suas construções e sua formosura. Sem nunca esquecer que todo o entorno de uma receita se compõe por pessoas que irão apreciá-la e que num ambiente acolhedor conseguiremos trazer Hygge para dentro de casa, para perto da gente, para o pé do ouvido... Que eu tenha olhos perscrutadores para não só indagar e investigar, para não só fazer e demonstrar, mas também para sentir e viver a confeitaria! É essa...a minha razão de misturar!



E assim termina este pequeno texto contando um singelo momento chamado... Hygge!

Luciana Corrêa – Mixing Things with Love

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